Natália Reis descobriu caroço no seio durante as férias e precisou fazer mastectomia bilateral para evitar que o tumor voltasse
A engenheira civil Natália Reis, de 30 anos, foi diagnosticada aos 28. Com uma mama considerada densa, fazia acompanhamento de dois nódulos a cada seis meses há alguns anos. Durante uma viagem com o marido, sentiu um dos caroços no toque. “Continuamos com as férias, mas fiquei superpreocupada, com isso na cabeça. Um dia depois de termos voltado a Brasília, fui fazer a ecografia”, conta.
No exame de imagem, o radiologista percebeu que um dos nódulos tinha mudado de tamanho e estava com formato diferente. O profissional pediu uma biópsia, seguindo o protocolo, mas tranquilizou Natália. Lembrou que ela era jovem e que não deveria ser nada demais.
Ainda assim, a engenheira marcou cinco mastologistas para a semana seguinte. Todos repetiram o discurso proferido pelo radiologista, motivo pelo qual Natália acreditou que não seria um tumor. Duas semanas depois, veio o diagnóstico de câncer de mama.
“O clichê é verdadeiro: abre um buraco, você cai e não se vê saindo dali. É muito difícil”, diz. Natália e o marido correram para um dos mastologistas, que fez o diagnóstico oficial e pediu uma bateria de exames para entender melhor a doença.
Tipo de tumor
Hoje em dia, faz toda a diferença para o tratamento saber exatamente as mutações e o tipo de tumor do paciente. O câncer de Natália tem uma mudança no gene BRCA2. A tia paterna dela havia sido diagnosticada com o mesmo tipo de neoplasia três meses antes, mas não é possível estabelecer uma relação direta, pois a mutação também pode ter vindo da família materna.
A oncologista Andreza Souto, da Oncoclínicas Brasília, é responsável pelo tratamento da engenheira e conta que mulheres com essa alteração genética têm 70% mais chance de desenvolver câncer de mama e ovário, e os homens, câncer de próstata.
“Todos nascemos com o gene BRCA2. Ele conserta erros do DNA; se está defeituoso, não consegue trabalhar. O câncer é um erro no DNA, uma mutação, uma alteração genética. Se ele não consegue ser reparado, o câncer aparece”, ensina a médica.
A especialista explica que, hoje, os cânceres de mama estão sendo diagnosticados em mulheres cada vez mais jovens. Na Oncoclínicas, por exemplo, cerca de 60% das pacientes têm menos de 50 anos. Além dos casos como o de Natália, relacionados a erros genéticos, o estilo de vida aumenta a incidência de tumores.
Fatores comportamentais
De acordo com uma pesquisa do Instituto Nacional do Câncer (INCA) divulgada nesta sexta-feira (1º/10), 13,1% dos casos de câncer de mama em mulheres com 30 anos ou mais têm relação com fatores comportamentais, como alcoolismo, obesidade e sedentarismo.
Andreza informa que o consumo de hormônios, seja em remédios, em comida ou em “pílulas da beleza”, também pode elevar a chance de desenvolver a doença.
A oncologista defende que o teste genético seja feito em todas as mulheres com menos de 45 anos diagnosticadas com câncer. Como a alteração no gene pode aumentar o risco para outros tumores, o conhecimento é importante para direcionar o acompanhamento e a prevenção.
Segundo a Agência Nacional de Saúde (ANS), o teste deve ser coberto pelo plano de saúde caso a mulher seja diagnosticada com menos de 35 anos, ou nas pacientes com menos de 50 que tenham um familiar diagnosticado com câncer de mama, ovário ou próstata. Na rede particular de saúde, o custo do exame varia entre R$ 1,5 mil e R$ 3 mil.
Cirurgia bilateral
O tratamento indicado para Natália foi uma mastectomia bilateral – cirurgia semelhante à realizada na atriz Angelina Jolie. O material foi enviado para testes nos Estados Unidos, que verificaram a necessidade de quimioterapia.
“Em nenhum momento achei que fosse morrer. Estava muito claro pra mim, nunca foi uma possibilidade morrer. Me ajudou muito entender que o câncer era uma fase, que eu iria passar por aquilo, a vida iria continuar. Existe muita vida após o câncer. É uma doença muito séria, a gente sabe que é grave e fatal para muitas pessoas, mas hoje o tratamento está evoluindo e há uma sobrevida muito boa e de qualidade”, conta Natália.
Ela explica que a quimioterapia foi, disparada, a pior fase do tratamento. A engenheira não teve muito enjoo e queda de cabelo (ela usou uma touca especial), mas sentiu muita dor e o psicológico ficou abalado. “A gente se olha para o espelho e não se identifica com a imagem refletida”, lembra.
O marido e a família de Natália foram essenciais em todo o processo. Era pelo apoio deles que ela se levantava todos os dias e fazia pelo menos uma caminhada; seguia vivendo e reforçando dentro de si que alcançaria a cura.
“Fomos juntos, e foi essencial para mim ter eles comigo. Sei que sou privilegiada, a doença não é igual para todo mundo, mas acho que é importante essa visão de que o câncer é um problema que passa e a vida continua”, explica.
Hoje, pouco mais de um ano depois da última sessão de quimioterapia, Natália faz hormonioterapia. De três em três meses, realiza exames para monitorar a possibilidade de volta da doença. O tratamento deve seguir por, pelo menos, cinco anos.
Aos poucos, a engenheira vai retomando a rotina de exercícios que tanto gosta, com atividades como as corridas e os passeios de bicicleta. Ela precisará ser acompanhada para o resto da vida, para evitar uma recidiva. A oncologista Andreza, entretanto, considera que a engenheira está curada.
“No Outubro Rosa, a gente precisa enfatizar muito que a prevenção e a detecção precoce estão ligadas à cura, e são a chave de tudo. A gente viu, na pandemia, muita gente chegando com tumor já grande porque adiou os exames”, alerta a oncologista.
Fonte: Metrópoles