No Brasil, 443 pessoas morrem diariamente por consequências do tabagismo. Os números são do Instituto Nacional do Câncer (Inca) e chamam a atenção para a campanha do Dia Nacional de Combate ao Fumo, celebrado neste domingo (29/8).
De acordo com o Inca, a pandemia de Covid-19 influenciou negativamente no tratamento de tabagistas no Sistema Único de Saúde (SUS). Dados mostram que os atendimentos a esses pacientes tiveram queda de 66% em 2020.
Os números foram coletados pelo Programa Nacional de Controle do Tabagismo (PNCT). A redução em 2020, comparada ao ano de 2019, também teve resultados impactantes se observadas as regiões do país.
No Norte, a queda foi de 59%, e no Nordeste, de 66%. Nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, as reduções foram de 68% e 63%, respectivamente. No Sul do país, o impacto foi de 62% no número de atendimentos, em comparação com o ano de 2019.
Redução de atendimentos
A coordenadora também ressalta que grande parte das equipes de saúde das unidades precisou redirecionar funcionários para o atendimento à Covid. “Além disso, nas próprias unidades houve afastamento de diversos profissionais, porque eram idosos, tinham comorbidades, eram gestantes, lactantes”, pontua Liz.
Como funciona o tratamento?
A coordenadora do Inca explica que o tabagismo é uma doença química, mediada pelo cérebro. “Como todas as dependências, ela tem um tratamento longo”, assinala.
Liz Almeida chama a atenção para as consequências que o problema pode trazer à saúde: além de doenças cardiovasculares e respiratórias, o paciente pode ser acometido por mais de 18 tipos de cânceres associados ao tabagismo.
E explica que o tratamento oferecido pelo SUS é completo: “Na unidade de saúde, o profissional vai avaliar a celeridade do tabagismo e a possibilidade de o paciente já ter comorbidades associadas ao próprio uso do tabaco. Dependendo do caso, a pessoa vai ser encaminhada ao atendimento individual ou ao atendimento em grupo, ou ela pode fazer a cooperação de ambos”.
Os pacientes também podem fazer uso de medicamentos, a depender do grau da doença, prescritos pelos profissionais de saúde. As pessoas do grupo de atendimento fazem sessões durante quatro semanas seguidas.
“À medida que a pessoa sai das quatro sessões, ela entra na manutenção, inicialmente em sessões quinzenais, no primeiro mês. Depois, ela entra em sessões mensais até completar um ano. É um tratamento muito bem acompanhado pela equipe de saúde”, pontua.
Impactos e soluções
A profissional ressalta ainda que a queda no número de atendimentos foi “significativa”. Para Liz, é importante que as unidades de saúde estudem a melhor forma de retomar o serviço de forma adaptada à nova realidade imposta pela pandemia.
A coordenadora conta que algumas unidades do país fizeram teleatendimento ou ações nas redes sociais durante o ano de 2020, mas ressalta que nem todas as regiões conseguiram se adaptar ao modelo digital.
“A próxima etapa da nossa pesquisa é entender junto às coordenações estaduais quais foram os fatores relacionados ao pior resultado, a uma queda mais acentuada nos atendimentos, e os fatores que também facilitaram uma maior manutenção desses tratamentos”, assinala .
A especialista continua: “Com base nessa experiência, a gente então vai examinar quais são as novas etapas que nós temos para fazer. Quais são as modalidades alternativas de tratamento que a gente tem para oferecer durante a pandemia?”.
Liz chama a atenção para a importância de os pacientes continuarem procurando as unidades de saúde para finalizar o tratamento. “O atraso na parada do uso dessa substância pode sim atrasar a sua recuperação física e aumentar o risco do desenvolvimento de doenças graves.”
Processo após a última tragada
Segundo a oncologista Gabrielle Scattolin, da Oncoclínicas Brasília, o tabagismo é um vício. E, diferentemente, do que muitas pessoas pensam, parar de fumar não é uma tarefa fácil.
“Além de ter um componente altamente viciante, a nicotina, os cigarros também têm outras características que facilitam seu consumo, como ser barato, de fácil acesso e não ser ilegal. O apoio da família também é fundamental nesse processo. Compreensão e palavras de incentivo são essenciais para que a pessoa consiga alcançar o objetivo de parar de fumar”, reforça a médica.
E é fundamental saber como funciona o processo de eliminação dos danos do cigarro.
Um dia depois, o monóxido de carbono é eliminado do corpo e os pulmões também começam a eliminar o muco e os resíduos da fumaça.
Dois dias depois, a nicotina some do organismo. Com isso, o gosto e o olfato começam a melhorar. A transpiração deixa de cheirar a tabaco.
De duas a 12 semanas depois, a circulação venosa (responsável pelo retorno do sangue dos tecidos para o coração) melhora e de três a nove meses depois, os problemas respiratórios e as tossem acalmam, a voz se torna mais clara e a capacidade respiratória aumenta em 10%.