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Correio Braziliense: Estudos mostram avanços significativos em tratamento contra câncer

Pesquisas apresentadas no congresso anual da Sociedade Europeia de Oncologia Médica (Esmo) revelam que combinação de terapias surtiram resultados relevantes no enfrentamento a diversos tumores, com aumento de sobrevida de pacientes

 

Depois de quase dois anos de discussões médico-científicas concentradas na covid-19, estudos sobre um outro grupo de enfermidades graves e com mortalidade anual estimada em 10 milhões de pessoas mostraram avanços significativos para o tratamento e a sobrevida dos pacientes de câncer. Encerrado na semana passada, o congresso anual da Sociedade Europeia de Oncologia Médica (Esmo) apresentou bons resultados de pesquisas para alguns dos mais de 100 tipos de tumores hematológicos e sólidos, caracterizados pela disseminação excessiva de células defeituosas no organismo.

Em uma semana de encontros virtuais, o congresso da Esmo trouxe pesquisas nas fases II e III; ou seja, em estágios próximos da aprovação de agências reguladoras. Os estudos com maior destaque entre a comunidade médica foram aqueles que demonstraram como a combinação de drogas pré-existentes — sozinhas ou conjugadas a técnicas já bem estabelecidas, como radioterapia —, levaram a um aumento na sobrevida de pacientes com doença localizada ou metastática, quando o câncer invade outros órgãos além do primário.

“O estudo mais importante da Esmo foi o que mostrou que a imunoterapia, quando associada à quimioterapia e a drogas antiangiogênicas, aumentou a sobrevida de pacientes de câncer de colo uterino”, aponta o oncologista Fernando Maluf, do Instituto Vencer o Câncer e dos hospitais Albert Einstein e Beneficência Portuguesa, em São Paulo. “No passado, o tratamento era quimioterapia e antiangiogênicos, mas essa pesquisa com 617 pacientes mostrou que a adição de um anticorpo chamado pembrolizumab reduziu o risco de morte em 36%”, afirma o médico.

O uso de anticorpos — a chamada imunoterapia — revolucionou o tratamento do câncer na última década e, apesar de não ser indicado para todas as formas da doença, tem aumentado a qualidade e a expectativa de vida dos pacientes. O estudo citado por Maluf, o Keynote-826, demonstrou que a adição de um anticorpo ao tratamento de primeira linha aumentou em oito meses a sobrevida de mulheres com tumor oncológico cervical recorrente, persistente ou metastático. O câncer cervical é um problema global, com mais de 600 mil novos casos e aproximadamente 340 mil óbitos registrados no ano passado.

O estudo dividiu aleatoriamente 617 mulheres para receber a imunoterapia (pembrolizumabe) ou placebo. Ambos os grupos também fizeram quimioterapia. Adicionar o imunoterápico ao regime reduziu o risco de morte em 33% e diminuiu a probabilidade de progressão da doença em 36%. “Os dados são tão sólidos em termos de incremento na sobrevida global que essa combinação deve ser considerada o novo padrão de tratamento para mulheres com câncer cervical persistente, recorrente ou metastático”, avalia o oncologista da Universidade de Navarra Antonio González-Martín, não envolvido com a pesquisa.

Solução eficiente

Na opinião do oncologista Fernando Maluf, estudos baseados na combinação de tratamentos para câncer de próstata também foram destaques do congresso. Um deles, o Stampede, conduzido pela Universidade College London, na Inglaterra, com 1.974 pacientes, mostrou que uma nova combinação de drogas antigas reduziu significativamente o risco de metástase e óbito durante seis anos de acompanhamento, comparado ao tratamento padrão.

O objetivo do estudo foi verificar o impacto da abiraterona — um inibidor hormonal que funciona de maneira diferente dos medicamentos do tipo — usado sozinho ou com outra droga (enzalutamida), concomitantemente ao tratamento padrão. Entre os voluntários, 988 receberam o tratamento usual: terapia hormonal com ou sem radioterapia, enquanto 986 associaram o abiraterone ao tratamento padrão (desses, 527 também foram tratados com enzalutamida).

Passados seis anos, a proporção de homens cujo câncer não se espalhou após seis anos no grupo de terapia à base de abiraterona e tratamento padrão (com ou sem enzalutamida) foi de 82%. Já entre os que ficaram apenas com a terapia usual, esse índice foi de 69%. Quanto à sobrevivência, 86% e 77% dos pacientes, respectivamente, estavam vivos após o período de acompanhamento.

 

Forte potencial

Na área de câncer de mama, o oncologista Max Mano, do Grupo Oncoclínicas, aponta três estudos que, segundo ele, têm potencial de mudar o tratamento padrão. Um deles, o Keynote 522, avaliou a associação do imunoterápico pembrolizumabe à quimioterapia em mais de mil pacientes com tumor triplo negativo, o de pior prognóstico.

“O estudo mostrou que, além de aumentar a resposta do tumor ao tratamento, a droga diminui de maneira muito significativa a taxa de recorrência da doença, tanto nas piores formas — de metástase —, quanto em outros tipos de recorrência. Foi um grande acréscimo para os pacientes e vai representar um novo padrão de tratamento do triplo negativo.”

Mano também destaca o Keynote 355, que avaliou a associação do pembrolizumabe à quimioterapia para pacientes com metástases e, portanto, sem chance de cura, que também aumentou a sobrevida e o tempo de controle da doença.

Por fim, o oncologista cita o Monalisa 2, estudo que demonstrou um ganho de mais de um ano de vida para mulheres na pós-menopausa e com câncer de mama avançado, ao associar, ao tratamento de primeira linha, o ribociclibe, um inibidor de enzimas que estimulam as células cancerosas.

“Não são drogas novas, o riboclicibe já está no mercado, mas agora vemos um desfecho do estudo sobre o tempo de sobrevida. Antes, já tínhamos visto o aumento no tempo do controle da doença. As pacientes tomando riboclicibe vivem mais de um ano do que as que não tomam, recebem menos quimioterapia e demoram mais de um ano para precisar da quimioterapia”, ressalta Max Mano.

Duas perguntas / Carlos Gil Ferreira – oncologista e presidente do Instituto Oncoclínicas

Quais estudos apresentados no congresso da Esmo foram os mais importantes, na opinião do senhor?
Esse congresso vem se tornando a cada ano um evento cada vez mais relevante, em que dados inéditos e que mudam condutas são apresentados. Houve avanços no tratamento de alguns tumores, como o câncer de colo uterino, com a comprovação de que a imunoterapia tem papel no tratamento das pacientes com doenças avançadas. Também foram apresentados dados importantes sobre o câncer de mama e tumores geniturinários. Então, é realmente um congresso que veio para marcar a era. Embora a gente não tenha nenhuma mudança completa de paradigma, os estudos mostram, com certeza, avanços para vários tipos de tumores.

Várias companhias apresentaram estudos sobre câncer de pulmão, o que mais mata no mundo. Algum pode ser considerado, de fato, promissor?
Houve vários dados interessantes. O primeiro é na população de pacientes com câncer de pulmão com alterações de HER2, o mesmo receptor alterado em câncer de mama, e que ocorre em entre 2% e 4% dos pacientes. O uso de uma droga chamada trastuzumabe deruxtecano mostrou um resultado muito promissor, que pode representar uma nova opção de tratamento para esses pacientes. Talvez o estudo mais desafiador tenha sido o apresentado durante o Simpósio Presidencial. É sobre o uso de imunoterapia, no caso, o atezolizumabe, em pacientes operados ou tratados com radiocirurgia. Ainda é imaturo em termos de resultado final, mas que mostra uma tendência de benefício; ele não muda a conduta ainda, mas a gente deve acompanhar pelos próximos anos pelo potencial que demonstrou.

Duas perguntas / Carlos Gil Ferreira – oncologista e presidente do Instituto Oncoclínicas

 (crédito:  Grupo Oncoclínicas/Divulgação)
crédito: Grupo Oncoclínicas/Divulgação

Quais estudos apresentados no congresso da Esmo foram os mais importantes, na opinião do senhor?
Esse congresso vem se tornando a cada ano um evento cada vez mais relevante, em que dados inéditos e que mudam condutas são apresentados. Houve avanços no tratamento de alguns tumores, como o câncer de colo uterino, com a comprovação de que a imunoterapia tem papel no tratamento das pacientes com doenças avançadas. Também foram apresentados dados importantes sobre o câncer de mama e tumores geniturinários. Então, é realmente um congresso que veio para marcar a era. Embora a gente não tenha nenhuma mudança completa de paradigma, os estudos mostram, com certeza, avanços para vários tipos de tumores.

Várias companhias apresentaram estudos sobre câncer de pulmão, o que mais mata no mundo. Algum pode ser considerado, de fato, promissor?
Houve vários dados interessantes. O primeiro é na população de pacientes com câncer de pulmão com alterações de HER2, o mesmo receptor alterado em câncer de mama, e que ocorre em entre 2% e 4% dos pacientes. O uso de uma droga chamada trastuzumabe deruxtecano mostrou um resultado muito promissor, que pode representar uma nova opção de tratamento para esses pacientes. Talvez o estudo mais desafiador tenha sido o apresentado durante o Simpósio Presidencial. É sobre o uso de imunoterapia, no caso, o atezolizumabe, em pacientes operados ou tratados com radiocirurgia. Ainda é imaturo em termos de resultado final, mas que mostra uma tendência de benefício; ele não muda a conduta ainda, mas a gente deve acompanhar pelos próximos anos pelo potencial que demonstrou.

Vacina mostra eficácia em doentes

Embora pesquisas sobre tratamento sejam o foco do maior congresso de oncologia clínica da Europa, um dos destaques do evento, segundo especialistas, foi uma pesquisa que demonstrou a eficácia da vacina para covid-19 em pacientes de câncer. Havia uma preocupação de que, devido aos medicamentos, que baixam a imunidade, as substâncias não fossem tão efetivas.

Porém, a produção de anticorpos neutralizantes — aqueles capazes de impedir a replicação do vírus — foi tão abundante nessas pessoas quanto nas que não estão sob tratamento de câncer. Outro estudo, também apresentado no congresso, mostrou, contudo, que a proteção diminui mais cedo, sugerindo a prioridade desse público para a aplicação de uma dose de reforço da vacina.

“Esses dois trabalhos foram muito relevantes”, define o oncologista Fernando Maluf, um dos fundadores do Instituto Vencer o Câncer e médico dos hospitais Albert Einstein e Beneficência Portuguesa, em São Paulo. “Essa imunidade pode cair mais rapidamente em pacientes com câncer, talvez por um efeito dos tratamentos de imunossupressão. Portanto, mostra a relevância de uma terceira dose de vacina para pacientes que têm diagnóstico de câncer”, diz.

A eficácia da vacina para covid-19 em pacientes oncológicos foi identificada por pesquisadores holandeses e apresentada no congresso da Sociedade Europeia de Oncologia Médica (Esmo) na semana passada. O estudo mostrou que as pessoas com câncer têm uma resposta imune protetora de acordo com que se espera da vacina, sem passar por efeitos colaterais diferentes que a população em geral.

Para explorar o impacto potencial da quimioterapia e da imunoterapia na proteção conferida pelos imunizantes, o estudo Voice inscreveu 791 pacientes de vários hospitais na Holanda em quatro grupos distintos: indivíduos sem câncer, os com câncer tratados com imunoterapia, os submetidos à quimioterapia e, finalmente, os tratados com uma combinação de quimioimunoterapia, para medir suas respostas à vacina de mRNA (a norte-americana Moderna, que usa o mesmo protocolo da Pfizer) no regime de duas doses.

Vinte e oito dias após a administração da segunda dose, níveis adequados de anticorpos contra o vírus no sangue foram encontrados em 84% dos pacientes com câncer recebendo quimioterapia, 89% daqueles na quimioimunoterapia em combinação, e 93% dos em imunoterapia isolada. “Fica realmente a mensagem de que pacientes com câncer em tratamento imunossupressor devem ser prioritários em termos de vacinação, porque eles, de fato, podem se beneficiar dessa vacinação”, destaca o oncologista brasileiro Carlos Gil Ferreira, presidente do Instituto Oncoclínicas. (PO)

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