A inteligência artificial (IA) vem provocando uma grande transformação na medicina, e é provável que ela esteja em um dos consultórios que você frequenta. Embora o termo ainda pareça abstrato para grande parte da população, ela já está estabelecida como ferramenta essencial em várias áreas da saúde.
Radiologia, oncologia, cardiologia, patologia e oftalmologia são as áreas de maior interface com a inteligência artificial atualmente. Mas, os médicos acreditam que o campo a ser explorado ainda é vasto, com possibilidades de aplicação em análises genômicas, terapias personalizadas, pesquisa de medicamentos e desenvolvimento de ações de educação e treinamento.
“A IA vem empoderando os profisisonais de saúde e o próprio paciente. Ela nos faz descobrir, prever e resgatar informações, com vistas a processos de decisão melhores. Acredito que a inteligência artificial vai ampliar o acesso dos pacientes à saúde e diminuir desperdícios do sistema”, considera a diretora executiva de Tecnologia e Inovação da Beneficência Portuguesa (BP) de São Paulo, Lilian Quintal Hoffmann.
O oncologista Rafael Botan, especialista em inteligência artificial da Oncoclínicas Brasília, enaltece os ganhos proporcionados pela IA no diagnóstico e tratamento. “A análise de grandes conjuntos de dados pode ajudar a identificar padrões que são imperceptíveis para os seres humanos. Além disso, a IA tem potencial no planejamento de tratamentos como a radioterapia e a quimioterapia”, afirma.
Como e onde a IA é aplicada na medicina
Diagnóstico de imagem: a radiologia é uma das especialidades que mais tem se beneficiado da IA. A ferramenta pode analisar imagens, como tomografias e ressonâncias magnéticas, para identificar tumores, lesões e outras anomalias com precisão superior ou complementar à capacidade do olho humano.
A inteligência artificial vem auxiliando radiologistas e oncologistas na detecção precoce de cânceres.
Análise genômica: a IA pode ser aplicada para identificar mutações associadas a cânceres específicos, também pode prever a susceptibilidade de um indivíduo a determinados tipos da doença.
Terapia personalizada: uma vez que um câncer é diagnosticado, a ferramenta pode ajudar a criar planos de tratamento personalizados, levando em consideração as características individuais do paciente. Os algoritmos podem analisar dados e sugerir abordagens terapêuticas que tenham sido usados com sucesso em casos similares.
Pesquisa e desenvolvimento: a IA pode analisar extensos bancos de dados de pesquisas clínicas para identificar novos alvos terapêuticos ou para acelerar o desenvolvimento de medicamentos.
Educação e treinamento: ferramentas de inteligência artificial também podem auxiliar na formação contínua de profissionais de saúde, com simulações, análises de casos e feedback em tempo real, otimizando o aprendizado.
Futuro da IA na medicina
Lilian Quintal Hoffmann acredita que a medicina caminha em um processo onde cada vez mais os profissionais de saúde terão suas decisões apoiadas por inteligência artificial. Isso significa que no futuro nossos médicos serão robôs?
“Os médicos continuarão fazendo tudo que é restrito a um ser humano. A gente ainda não conseguiu substituir a empatia de um profissional de saúde na hora de comunicar um diagnóstico difícil a um paciente”, considera.
Autodiagnóstico com IA
Recentemente surgiram casos de pessoas que fecharam diagnósticos complicados com o uso do ChatGPT.
A diretora executiva de Tecnologia e Inovação da Beneficência Portuguesa (BP) acredita que, cada vez mais, essas plataformas se tornarão uma ferramenta de autodiagnóstico. Ela considera, entretanto, que isso não afastará as pessoas dos consultórios, pois o tratamento orientado é o passo seguinte de quem tem um diagnóstico.
“Acredito que teremos uma realidade onde as pessoas estarão cada vez mais engajadas na própria saúde, isso não é ruim e nem substitui os médicos”, afirma Lilian.
Desafios
Ainda há um longo caminho a ser percorrido, cheios de desafios. Entre eles, destaca-se a falta de informação integrada em prontuários eletrônicos. Muitos hospitais ainda arquivam os dados dos pacientes em prontuários de papel ou não têm comunicação integrada com outros serviços de saúde, dificultando o acesso a informações.
O uso incorreto da IA na área da saúde também pode levar a diagnósticos imprecisos, decisões clínicas inadequadas e violações de privacidade, resultando em danos físicos e emocionais aos pacientes.
Fonte: Metrópoles