Depois de dois anos com programação virtual, o Encontro Anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) voltou a reunir especialistas do mundo inteiro em Chicago (EUA) para apresentar as inovações mais recentes e estudos sobre câncer. O ASCO é o maior evento internacional sobre o tema e teve como destaque o debate sobre a desigualdade no acesso aos medicamentos, o que se agravou durante a crise sanitária mundial.
Entre os vários resultados de estudos apresentados, as pesquisas que mais repercutiram na comunidade científica foram relacionadas a câncer de mama e de reto, com importantes avanços no que diz respeito à sobrevida dos pacientes. Para o oncologista Cristiano Resende, da Oncoclínicas Brasília, que participou do congresso, dentre os estudos altamente relevantes em câncer de mama, os de imunoconjugados foram os que mais ganharam destaque. “Essas drogas prometem avançar para outros tipos de câncer de mama e gradualmente tomar o espaço de tratamentos tradicionais, como a quimioterapia”, explica.
O oncologista destaca o estudo chamado Destiny Breast 04 (DB-04) que na avaliação dele é muito importante por dois motivos. “O principal deles é porque ao usar droga conjugada no cenário do câncer de mama HER2 low metastático você associa o quimioterápico dentro de um anticorpo, como se fosse um efeito cavalo de Tróia, o remédio liga na célula tumoral e esse remédio tem sua efetividade aumentada. Quando essa droga foi utilizada a gente dobrou a sobrevida livre de progressão desses pacientes isso pq com a quimioterapia tradicional eram 5 meses e agora ela fica 10 meses. Vale ressaltar Tb que com essa nova estratégia é possível diminuir o risco de morte em quase 40%, que é o principal desfecho em oncologia”, afirma.
Outro destaque do Encontro foi em relação ao câncer de reto. Pela primeira vez na história da Oncologia uma medicação mostrou-se 100% de efetividade. Os dados apresentados apontaram que em todas as pessoas avaliadas o tumor desapareceu por completo após um ano de tratamento com uso de imunoterapia anti PD1, medicação capaz de fazer o sistema de defesa do organismo voltar a reconhecer o inimigo e conseguir atuar assim diretamente, como um míssil teleguiado, para destruir as células cancerosas. Até agora, o estudo foi feito com pacientes com câncer de reto em fase inicial e que não haviam passado por nenhum outro tratamento prévio depois de um ano de acompanhamento. “Já era sabido que os pacientes que são portadores dessa alteração são altamente responsivos à imunoterapia, mas até então não haviam provas de que eles poderiam ser curados apenas com o uso desse tipo de medicação. Até aqui, todos os pacientes que fazem parte desse estudo deixaram de apresentar sinais de presença da doença, seus tumores desapareceram”, comenta Aline Chaves, oncologista do Grupo Oncoclínicas.
Impacto da pandemia nos diagnósticos de câncer
No Brasil, estimativas das Sociedades Brasileiras de Patologia e de Cirurgia Oncológica indicam que no primeiro ano da pandemia de Covid-19 no País, ao menos 70 mil brasileiros deixaram de ser diagnosticados com câncer. E só em abril de 2020, cerca de 70% das cirurgias de câncer foram adiadas. Os dados são resultado dos cancelamentos de procedimentos não urgentes, como exames, consultas e cirurgias, além da recusa de pacientes com a doença ou sintomas em procurar um hospital ou clínica por medo de pegarem o coronavírus.
Exemplo desse cenário está materializado em pesquisa realizada pelo oncologista da Oncoclínicas Brasília, Cristiano Resende, com pacientes de câncer de mama, que avaliou o impacto da pandemia nos diagnósticos da doença. O estudo analisou 11.572 pacientes em tratamentos e a comparação foi com o período pré-pandemia. “Quando avaliamos os resultados do estudo, a gente teve uma redução de 10% nos casos de estágio inicial e a gente teve um aumento cerca de 7% de casos avançados, quando é a doença metastática”, explica o médico. O subgrupo mais afetado foi o das mulheres de 50 anos ou mais ou após menopausa. O especialista explica que a causa desse resultado pode ter sido a diminuiçãona realização das mamografias, o principal exame de pra câncer de mama fora a avaliação médica.
Fonte: Alô Brasília